Venham mais MILS




Recebi o convite para, no feriado nacional de 25 de abril, ir a Gouveia conhecer o projeto que ali seria apresentado, o Museu Internacional do Livro Sagrado – O ADN das Civilizações do Mundo

Um aparte, chovia que Deus a dava! Mas, fui, fomos, eu e o meu marido, natural do outro lado da Serra da Estrela, da Covilhã. 

Interessante, no dia da Liberdade, a apresentação de algo relacionado, mesmo que de forma indireta, com Religião. Um dos direitos fundamentais é o da liberdade religiosa; nós por cá, os crentes das diferentes religiões, em Portugal, felizmente, ainda não sabemos o que significa dela vivermos privados. 

O Museu Internacional do Livro Sagrado - MILS nasceu da proposta sonhada pelo padre dominicano natural de Gouveia e há muito residente em Franca, frei José Luís de Almeida Monteiro, presidente da Federação das Bibliotecas Eclesiásticas de França, e, ao que se percebeu, dono de um acervo livreiro que quer ser partilhado. 

A ideia foi (muito bem) acolhida pela autarquia municipal, principal impulsionador financeiro do projeto e que entrega um dos seus terrenos para esta ca(u)sa. 

Já está escolhida a equipa que vai arquitetar a obra, a construir em Farvão, mais propriamente no Monte do Dique, lugar, ao que foi explicado, insigne da antiga cidade têxtil, aquela que, nos tempos áureos desta indústria em Portugal, junto com a Covilhã, produzia muita da matéria-prima com que o mundo se vestia. 

A idealização científica do MILS, digamos assim, está a ser desenvolvida, sob a coordenação do investigador José Eduardo Franco, por um vasto conjunto de entidades das áreas do ensino, investigação e cultura, nomeadamente, a Universidade Aberta, a Cátedra Infante Dom Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos e a Globalização, o Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a Sociedade Bíblica de Portugal, o Instituto de Estudos Avançados em Catolicismo e Globalização e o Instituto Europeu de Ciências da Cultura Padre Manuel Antunes. 

O MILS terá e será um espaço museológico, um lugar de investigação e um centro cultural. Mais do que a celebração da fé, propõe-se celebrar a cultura, a história e o património e, quem sabe, ser caminho do diálogo inter-religioso. 

Na sessão de apresentação, que decorreu no outrora edifício jesuíta agora autarquia municipal, pode dizer-se que o padre José Luís de Almeida Monteiro ofereceu a primeira peça do museu: um tijolo trazido do atual Iraque, datado dos tempos da civilização babilónica.

Na minha modesta opinião, o tijolo babilónico ficaria mesmo bem como primeira-pedra do edifício, embora colocado em lugar-chave do futuro museu. Enquanto o padre dominicano segurava o tijolo na mão, lembrei-me, mais ou menos do mesmo tamanho, do que foi decidido fazer-se com a primeira-pedra da Basílica da Santíssima Trindade, no Santuário de Fátima. Como era um pedaço do túmulo de S. Pedro, oferecido pelo Papa João Paulo II a Mons. Luciano Guerra para primeira-pedra da então igreja em construção, foi colocado no altar, onde agora todos o podem ver, também como símbolo da ligação de Fátima à figura do Papa. 

O MILS assume ainda um propósito de valor acrescentado e um desafio meritório: o desenvolvimento do interior do país, nos diversos níveis de crescimento que um espaço como este pode trazer a uma cidade do interior, claro está, de olhos postos também no turismo cultural e religioso. 

Mesmo sem existir em concreto, o MILS já carbura. 

Para começar, está a organizar uma iniciativa de âmbito internacional, apresentada na sessão solene de 25 de abril e agendada dias 10, 11 e 12 de setembro de 2020: o congresso “A Bíblia na Cultura Ocidental: Milénio de Civilização”. O frei capuchinho Herculano Alves preside à Comissão Científica. 

Venham mais MILS, isto é, mais projetos interessantes, para o desenvolvimento da cultura e da arte e para a dinamização do interior do nosso Portugal.

LeopolDina Reis Simões
Fátima, 03 de maio de 2019

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