Fui ali aos Pirenéus, mas já voltei


Hoje partilho convosco um pouco dos Pirenéus franceses e da região da Occitânia.

Sou defensora da proposta turística nacional do ir para fora cá dentro, mas, concordarão comigo, de vez em quando, também sabe muito bem ir para fora lá fora, uma coisa não tem necessariamente que ofuscar a outra.

À boleia dos voos low cost da Ryanair diretos Lisboa-Lourdes, inaugurados em 2 de abril, fui conhecer os Pirenéus e a Occitânia.

Pois então, Lourdes. Quando ouvia falar de Lourdes, ou talvez seja só eu, por ser natural de Fátima - não fiz nenhum inquérito sobre isto - o que de imediato me vinha à cabeça era o Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, ali venerada como Nossa Senhora da Conceição.

Mas a região é mais do que Lourdes.



O ponto mais alto onde estive, literalmente falando, foi o Pico do Midi. Fiquei a saber que não sofro de vertigens nem tenho medo das alturas, o que é sempre bom sabermos de nós mesmos, porque, quando nos perguntam “Tens vertigens?”, nós, se não soubermos, não sabemos.

Já tinha estado há uns anos na Torre de Macau, com os seus 338 metros de altura. Estive mesmo em cima daquela zona de piso de vidro transparente e, confesso, as pernas tremeram e o coração bateu apressadamente para descer a terra firme, talvez não tanto por mim mas por ver os saltos que davam de lá de cima, presas por umas cordas elásticas, algumas pessoas. 

Desta vez subi até aos 2.877 metros de altitude, por teleférico, com um vento constante a fazer abanar o transporte coletivo, e não tive receio. Lá em cima, a vista a 360 graus é de cortar a respiração, esmagadora. Na plataforma, com 1.000 metros quadrados de varandas, estão disponíveis um observatório astronómico, um planetário, zona de restauração e até alojamentos (a 200€ por noite). Em breve, será inaugurado o telescópio, mesmo junto do espaço de experiências.
Ah! E alugam-se ali salas de reunião, como a na foto acima, provavelmente para proveitosos brainstormings. Em caso de interesse, não perguntei preços, mas têm site.
Desconhecia que houvesse lugares classificados como “Reserva Internacional de Céu Estrelado”. O Pico do Midi é um deles.
Ai, amigos, tanto que todos os dias somos convidados a aprender!




Não me detenho aqui, mas acreditem que valia bem a pena: Saint Lary Soulan, com as suas estâncias balneares, espaços para desportos de montanha e gastronomia ímpar. Saint Lary Soulan é linda, na arquitetura os telhados de ardósia imperam.

O diretor do departamento de turismo da região fez saber no entanto que o destino é bem mais conhecido pelos cem quilómetros das 56 pistas de esqui e que, portanto, a época do ano com maior presença de turistas é o inverno, isto é, a percentagem de 60% das noites com maior número de dormidas está balizada entre maio e outubro, situação que as diferentes entidades pretendem alterar com a dinamização do turismo termal, de outubro a abril. A vila tem 800 habitantes, mas no pico das atividades de inverno o número sobre para os 2.000.





Cansado do roteiro? Então relaxemos num dos dez centros de balneoterapia e termas dos Altos Pirenéus. Sublinho os que conheci, porque valem mesmo a pena: Balnéa e Les Bains du Rocher, estes segundos, na fotografia acima (http://www.bains-rocher.fr/), então, sem palavras.


O Ferrari incluído é apenas para alegrar os fãs da marca italiana 

Não está cansado? Então pedalemos, o que não foi o meu caso. Além dos inúmeros ciclistas que encontrámos pelo caminho e dos vários circuitos BTT já inscritos em campeonatos internacionais da modalidade, poder percorrer, nem que seja numa carrinha de nove lugares, alguns dos circuitos do Tour de France que só vemos pela televisão faz a viagem valer a pena. E isto com direito a uma paragem por breves minutos num local emblemático: o Col do Tourmatet, a 2.115 metros, o mais escalado do Tour.




Bem, e o Circo de Garvanie, com a maior arena glaciar do mundo, património da UNESCO? Reconheço, nunca tinha ouvido falar. Aquando do percurso pedonal que fizemos pela montanha e da caminhada pela vila, com paragem na igreja por onde passa quem tem como destino Santiago de Compostela, compreendemos bem as palavras de Victor Hugo sobre o lugar: Gavarnie “é o mais misterioso edifício do mais misterioso dos arquitetos”.




Outro lugar de paragem foi a aldeia de Mont, no topo da montanha, com a Igreja de Saint Bartélémy, datada século XIII da qual sobressai nas paredes exteriores, lado a lado, uma figuração do Juízo Final e outra do Diabo! Observem bem a foto acima.




Um dos lugares mais bonitos da viagem foi Cauterets, com as suas belíssimas cataratas e zona termal construída como uma jóia e onde algumas ruas, com as bonitas varandas de ferro forjado e cantarias, fazem lembrar Paris, de onde os clientes termais traziam as novas ideias no início do século passado.


 

Um apontamento especial para o hotel de charme Lion D´Or, onde fiquei alojada uma noite. Ali não encontramos nem um pingo de turismo massificado; o espaço pertence à mesma família há quatro gerações, a família Lassere-Morel, e, em resumo, é como ir visitar a mãe, a avó ou uma tia velhinha, e ser recebido com um grande sorriso, um apertado abraço, uma sopa de legumes quentinha e croissants ao pequeno-almoço. 

Achei piada, as feições do senhor Éric fizeram-me lembrar as do meu pai quando era mais novo.
Quem o conhece decerto confirma

Outro apontamento especial de Cauterets é também devido aos berlingots. Não tenho agora tempo para a história da namoradeira rainha russa que ali viveu, fica para a próxima. Quatro estabelecimentos mostram e dão a provar estes bombons típicos de vários sabores, os berlingots. Fomos conhecer esta tradição pelas mãos do senhor Éric Millet, na loja Marinette.fr.


Outros lugares interessantes? Nesta viagem, já terão percebido, não sigo a ordem cronológica ou geográfica da visita-guiada feita de pequenas visitas-guiadas. Seria mais simples, talvez, mas não me apetece.



Fizemos uma rápida paragem para visitar na Abadia de Saint-Savin-en-Lavendan, no vale Gave de Pau, a quinze quilómetros de Lourdes. Por vezes, alguns grupos de peregrinos vindos do santuário mariano celebram ali, como era o caso naquele dia.  No interior do templo do século XII, românico com torre gótica, outrora mosteiro beneditino, outrora ruínas, agora igreja paroquial classificada com o título de monumento  histórico, fomos convidados a apreciar o órgão lateral, um dos mais antigos da Europa.
No exterior dois apontamentos; o primeiro, naquela aldeia viveu Paulo Coelho; o segundo, as habitações, pelo menos as da ruela mesmo junto da abadia, fizeram-me lembrar D'Artagnan e os Três Mosqueteiros, ou melhor, aquele ambiente de tascos onde eles se encontravam para congeminar contra o Cardeal Richelieu e seus comparsas.




Falta dizer que o início da viagem de quatro dias começou por Lourdes, com a visita ao Castelo-Forte-Museu de Lourdes, e, na zona baixa da cidade, ao Santuário de Lourdes, na vizinhança do rio Gave de Pau e edificado paulatinamente a partir da gruta de Massabielre (antiga rocha) e da colina onde se deram as aparições marianas, em 1858. Na próxima edição da revista Stella apresento mais em pormenor este santuário. 

Lourdes celebra este ano os 175 anos do nascimento e os 140 anos da morte da vidente Bernadette Soubirous, e o destaque cultural na cidade é mesmo o musical «Bernadette de Lourdes “Ela olhou-me como pessoa”», apoiado por várias entidades civis e religiosas e que sobe ao palco a 1 de julho, sem direito a tournée, para que quem queira assistir tenha de ir a Lourdes.

Por toda a cidade, as mil e uma lojas vendem tudo e mais alguma coisa, souvenires, comes-e-bebes, vestuário, etc, etc, além dos muitos espaços de alojamento. 

Levar uma recordação, doa a quem doer, faz parte de uma viagem, nem que seja um imane para o frigorífico. O grupo de profissionais da comunicação convidado para esta viagem concluiu que em Lourdes, como em Fátima ou em outros lugares de peregrinação ou mesmo de simples turismo, podemos contestar qualidade e até quantidade, forma, exagero, mas não se pode contestar a existência de espaço comerciais e outros; faz parte.

Na cidade, duas lojas chamaram-me a atenção. Uma delas, que não fixei o nome, vendia sabonetes naturais para todos os cheiros – até havia de patchouli, o perfume da canção do Rui Veloso! –, cores, formatos e tamanhos. 

Outra loja que, se me não engano, se chama “Produtos do Mosteiro”, tinha à venda produtos naturais e artesanais produzidos em vários mosteiros religiosos franceses; de licores a chocolates, daquelas pastilhas com sabor a mentol a bolos secos e bolachas. Já estão a adivinhar os presentes que trouxe para a família, certo? Já não tenho embalagens para confirmar os nomes dos estabelecimentos…

Antes do voo de regresso a Lisboa, visitámos o aeroporto internacional de Tarbes-Lourdes, a dez quilómetros do santuário. Escreverei sobre isso na edição do Notícias de Fátima.


O que destaco da estrutura aeroportuária é o mesmo que me chamou a atenção no santuário mariano: o cuidado ao peregrino doente. No santuário o peregrino doente é colocado em frente na procissão das velas, sempre acompanhado, e, no aeroporto, a zona de “Acolhimento Especializado”, com dois quartos (foto acima) acolhe, se necessário, os peregrinos doentes enquanto aguardam transporte para Lourdes ou o embarque no avião; salas de espera, check in e plataforma de chegada/embarque foram estritamente pensadas para estes peregrinos.


Um último detalhe, em todo o lado encontrei sardinheiras – as flores. Na cidade, na montanha, sempre bonitas e de todas as cores. 

Visto isto, desde que regressei já plantei mais umas quantas sardinheiras no meu jardim.

Ah, e o melhor das viagens? Para mim, é o regresso a casa, ao que é nosso e sobretudo aos nossos… E, de seguida, sonhar e traçar novos destinos.

*Agradeço à Raynair e às diferentes instituições e entidades religiosas e civis de Lourdes, Altos Pirinéus e Ocitânia o convite para participação na ação promocional Ryanair Lisboa-Lourdes.













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