A Rita sempre e perto

Hoje estive na paróquia da Barreira, distrito de Leiria, para apresentar o livro de testemunhos e homenagem póstuma à Rita Pereira. 

Um ano após o seu falecimento, Rita Pereira, a jovem maestrina, organista e professora foi recordada na sua terra natal com uma tarde cultural com o lançamento de um livro e vários momentos musicais maravilhosos, que estiveram a cargo de grupos corais a ela umbilicalmente ligados: o AdesbaChorus, o AdesbAcapella e o Coro Infanto-Juvenil da Barreira.

Foi uma tarde de casa e coração cheios.

Partilho também convosco as boas memórias que dela tenho:  

Boa tarde. Aceitem todos o meu abraço cordial. 

Já viram que está um belíssimo dia para recordar a nossa Rita Pereira? Até S. Pedro se juntou à singela e bonita homenagem que decidiram fazer-lhe a Paróquia da Barreira, a ADESBA - Associação de Desenvolvimento e Bem Estar Social da Freguesia da Barreira e a União das Freguesias de Leiria, Pousos, Barreira e Cortes, a quem agradeço o convite para aqui vir apresentar o livro “A Rita sempre e perto”. 

Um cumprimento especial aos pais e irmãos de Rita por me sugerirem para esta apresentação. 

Assim, a olhar para vós - tantos! - sem vos conhecer a todos, confirmo o que já antevia antes de aqui chegar: 

Primeiro: Nesta sala está muita gente que conhece a Rita Pereira bem melhor do que eu. 

Segundo: A nossa Rita tinha muitos e bons amigos. 

Quanto a mim - permitam-me que comece desta forma - conheci a Rita já na idade adulta, quando ambas eramos funcionárias do Santuário de Fátima, ela maestrina e solista, funcionária do Departamento de Pastoral Litúrgica, e eu assessora de imprensa, funcionária do Centro de Comunicação Social. Trabalhávamos em espaços físicos diferentes, mas tomávamos, com outros colegas, o café juntas, nem sempre nem nunca, mas quando era possível e sempre que era possível; não me recordo se às 10:00 se às 10:30. Por vezes também almoçávamos juntas na cantina. 

Ela andava sempre à volta com as pautas musicais, os alinhamentos e os programas para celebrações ou eventos da instituição, e eu com os comunicados à imprensa e os conteúdos informativos para o site, as redes sociais e as publicações oficiais do Santuário. 

Ela gostava muito do que fazia. Algumas vezes era a Rita que me dava informações que depois dariam notícias interessantes: o anúncio de um concerto especial do coro adulto que regia, alguma novidade do coro infantil regido pelo maestro Paulo Lameiro mas que ela tanto e tão bem também cuidava, uma viagem à Áustria, entre outras iniciativas. 

Partilhávamos ambas um sentir comum, que, nunca deixámos de fortalecer, ela até ao último suspiro e eu até o momento presente: o grande amor, devoção e confiança em Nossa Senhora de Fátima. 

Já quando ambas estávamos fora do Santuário e a desenvolver outros projetos profissionais, fizemos algumas viagens juntas, de autocarro, de Fátima a Lisboa - onde ela ia fazer a formação com vista à obtenção do grau de mestrado. 

A primeira viagem em que fomos juntas sucedeu sem termos combinado. Calhou encontrarmo-nos na sala de espera da Central de Camionagem na Cova da Iria. Foi uma festa! 

Uma viagem ao lado da Rita era, como muitos recordarão, uma lufada de ar fresco, sempre com tantos projetos e desafios pela frente. Falávamos dos estudos dela e dos meus projetos, da casa que ela estava a recuperar, das nossas famílias... Ela gostava especialmente de contar as travessuras do sobrinho adotivo Víctor, que foi uma grande alegria na vida dela. 

Lembro-me de uma história: que o pai da Rita teve de fazer uma casinha para a escolinha do Víctor. A Rita estava muito feliz, pela alegria do Víctor e pelo entusiasmo do pai por fazer a casinha ao neto. Não me recordo, mas imagino que seja uma casinha em madeira, não é, senhor Manuel?

E também falávamos na doença, sim falávamos. Ela via-a como mais um obstáculo, a ultrapassar. 

Na saúde e na doença - na vida - a Rita manteve-se sempre firme nos seus valores, ideais e propósitos. No trabalho e na forma como viveu a doença nunca desistiu de acreditar: de acreditar nas propostas e projetos que fazia a ela mesma e aos outros, de acreditar nela mesma e de acreditar em Deus. 

Também sou 'órfã de irmã' - até ver, julgo que ainda não encontraram palavra para explicar uma irmã que perde outra irmã. A minha irmã Sofia morreu, aos 21 anos, também por doença, já lá vão 19 anos. Ela também era assim, uma lutadora, uma estudante aprimorada e com uma força de viver muito grande, assim ao jeito da Rita. 

Com a morte dos que nos são mais queridos ficamos como que incompletos. Falo por mim, falta-nos algo, como que até físico, mas ganhamos grandes responsabilidades: a de dar graças a Deus todos os dias pelo dom da vida, e a de fazer o possível por levar uma vida séria e digna, sem lamurias desmedidas, e, também a responsabilidade de darmos testemunho dos que nos são queridos e já não estão entre nós. 

… … 

Sobre Testemunhos... Mas que ideia bonita: um conjunto de pessoas motivou-se a si mesmo e a outras pessoas para a publicação do livro que hoje aqui é apresentado: “A Rita sempre e perto”.

A obra tem a coordenação do Padre Augusto Gonçalves, que bem conhecemos, pároco da Barreira, e do Dr. Pedro Moniz, que eu, hoje, acabo de conhecer. 

No total, são 16 os co-autores, que merecem ser nomeados um a um: a Ana Aleixo, a Ana Carlota, a Arminda Filipe – a Minda, catequista da Rita; o José Cunha, o padre Eduardo Caseiro, o José Carlos Pereira, a Júlia Moniz; a Liliana Ferreira e a Maria João Militão Ferreira – dois testemunhos sob a forma de poesia; a Manuela Moniz; a Filipa Cunha – que participa no livro com uma ilustração; o Paulo Lameiro; o Pedro Moniz – que lhe escreve uma carta, o padre Rui Acácio Ribeiro, a Sónia Santos e o Padre Augusto Gonçalves. 

Pedro Moniz termina a Nota Introdutória com uma frase singela, bem esclarecedora do propósito da publicação: “Este livro é uma homenagem de todos os seus amigos”. 

E é isto. É uma homenagem de todos os seus amigos, aqueles que contribuíram com um testemunho escrito para a obra, e os outros amigos que vão ler o livro, os que hoje aqui estão e os que não puderam estar. É aqui que eu encontro o 'sempre' e o 'perto' do título “A Rita sempre e perto”. 


Em termos de estrutura, o livro, com a chancela editorial da “Hora de Ler”, que felicito por este trabalho, tem uma primeira parte dedicada ao perfil biográfico da Rita Pereira, um trabalho da autoria de Pedro Moniz, escrito em prosa, com alguns poemas bem seleccionados, entre outros do Papa Francisco e de Santo Agostinho. 

Esta primeira parte recorda os principais passos de vida e do trabalho da Rita Pereira, até ao concerto de homenagem que lhe foi feito em Leiria, uns meses após a sua morte. 

Inclui também a carta de despedida da Rita a todos nós, que escreveu alguns dias antes do seu falecimento. 

Muitas pessoas se vão encontrar nesta primeira parte, porque há nela um trabalho minucioso de pesquisa do Pedro Moniz, até com recolha de posts do Facebook! E mais não digo, porque há que ler o livro! 

A segunda parte, é composta pelos Testemunhos propriamente ditos. 

O primeiro é assinado pela Ana Aleixo, uma amiga da Rita que tenho a alegria de também ser minha. A iniciar o seu testemunho, a Ana, de uma forma criativa, transforma a vida da Rita num conjunto de bandas sonoras, por meio das quais ficamos a saber ou recordamos como ambas se conheceram e o que viveram juntas. 

Temos diante de nós um livro de testemunhos, um livro de homenagem, que é também um livro biográfico. 

Não sei se pode dizer isto em Literatura, mas não faz mal: o livro “Rita Sempre e Perto” é um livro multibiográfico. 

Nas suas páginas não está apenas a vida da Rita. São partilhadas outras biografias, outras vidas vividas com a vida da Rita, e até vidas que se conheceram por meio da Rita – como a da Sónia Santos e da Arminda, por exemplo, que a Rita apresentou. Não estou bem certa, mas julgo que também conheci a Sónia Santos também por intermédio da Rita… 

Estão neste livro, como terão oportunidade de ler, as vidas de quem com ela cresceu, ensinou, aprendeu, trabalhou, (con)viveu, e se divertiu, porque a Rita era uma pessoa sempre pronta para uma caminhada, um piquenique, um cafezinho, um lanche. A bem da verdade, também temos de aprender isso com ela, o tempo, se bem organizado, dá para fazermos muito de bom e útil, para nós e para os outros. 

Encontrarão, tenho a certeza, nestas páginas ainda outra 'vida', além das vidas da Rita e dos co-autores dos textos: a vida de uma comunidade e de uma paróquia. Um espaço bem definido no tempo e no espaço, um lugar físico e emocional que a Rita tanto estimou e a quem tanto deixou, quer em termos de participação em iniciativas locais, como as Tasquinhas da Barreira – do melhor!, quer mesmo em termos da criação e envolvimento em projetos culturais, alguns dos quais temos hoje o gosto de ter aqui presentes, e que estamos a ouvir. 

Para não vos ocupar muito tempo escolhi três pequenos extratos de três testemunhos:

O padre Eduardo Caseiro conta: “Recordar a vida da Rita na minha vida faz-me regressar aos meus 13-14 anos (se não me falha a memória) e lembrar os primeiros passos do coro infantojuvenil da nossa Paróquia, projeto que a Rita havia começado e no qual eu tinha entrado. Com ela acabei por desenvolver o meu gosto por cantar. Lembro-me bem que ela puxava muito por nós. Que nos transmitia o gosto pela música. Que se fazia próxima e transmitia a sua alegria.” 

A Ana Carlota escreve: “(…) Quero falar-vos da Ritinha, a perita em manter sempre o foco na mira. Se surgissem obstáculos ou adversidades às situações, a estagnação era ação proibida, os momentos de lamento eram curtos e rapidamente ela começava a discutir soluções e saídas – todas as que conseguisse imaginar”. 

O Paulo Lameiro, é autor de um “Testemunho em 5 andamentos”. Leio-vos uma parte de um dos andamentos: “Tive o privilégio de ter tido a Rita como colega de trabalho. Foi no Santuário de Fátima, era eu o maestro da Schola Cantorum Pastorinhos de Fátima e ela a maestrina do Coro Principal, o Coro Adulto. Num ambiente de trabalho especialmente desgastante e por vezes muito perturbador, tantas vezes injustamente incompreendida, a Rita foi para mim um exemplo de tranquilidade, objectividade, dedicação e cuidado. Foi com ela que tive os melhores momentos de trabalho no Santuário.” 

Posso juntar outro extrato de outro testemunho? Só mais um, este: "A fé que possuía levava-a a ver mais longe a vida como um caminho a percorrer, mesmo por entre pedras ou buracos. A Rita era uma jovem duma fé assumida, que a iluminava. Guardarei sempre na minha memória a frase que me disse já perto do final da sua vida terrena: ‘Deus sabe muito bem o que faz’". 
São palavras do testemunho do senhor Padre Augusto Gonçalves. 

Temos agora este livro para ler, temos os projetos musicais que ela criou e temos – têm vós, a comunidade da Leiria, Pousos, Barreira e Cortes - o Centro Cultural Rita Pereira, inaugurado a 3 de junho de 2018. 

A vida, como vemos, felizmente, continua. 

Há pessoas que nos deixam cedo demais, todos sentimos isso. Mas, temos de fixar o olhar adiante, fazer o nosso caminho com serenidade e esperança, assentes numa certeza: nem quem parte nos deixa, nem nós os nunca os deixamos. 

Termino com as palavras com que finaliza o testemunho da Arminda Filipe “Até um dia minha [nossa] querida e doce Ritinha." 

Obrigada, de novo, à Organização, e um abraço amigo a todos vós. 

LeopolDina Reis Simões 

Barreira/Leiria, 24.03.2019




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