A (difícil) conciliação Família-Trabalho


Recentemente, trabalhei a comunicação de dois eventos organizados por entidades distintas, mas que, curiosamente, de entre os vários temas propostos à reflexão, apresentavam uma temática em comum: a conciliação Trabalho-Família.
No III Simpósio Ibérico de Riscos Psicossociais, realizado a 19 e 20 de abril na Escola Superior de Tecnologia e Saúde, em Coimbra, prendeu-me a atenção o testemunho de Sónia Neves, elemento da GNR, que, no painel “O reflexo das más condições laborais no seio familiar”, falou sobre algumas das dificuldades por si sentidas, não tanto por ser mulher num mundo de homens, mas mais as de ser mãe e esposa nesse mesmo mundo.  
Um dia depois, a 21 de abril, em Lisboa, a primeira parte do programa do Encontro Nacional da Associação dos Médicos Católicos Portugueses, foi precisamente dedicada ao tema dos equilíbrios no exercício da Medicina, com três médicos de diferentes gerações a tomarem a palavra num painel intitulado “Equilíbrio Ácido-Base – Perspetivas, dilemas e estratégias para o equilíbrio Trabalho-Família”. 
Fixo-me sobretudo no testemunho da jovem médica Eva Serra Palha que deu conta dos seus percursos pessoal, familiar e profissional constantemente ajustados às escolhas que desde cedo escolheu fazer, com as dificuldades e alegrias inerentes, numa busca incessante do equilíbrio.
Reconheço que me chamaram mais a atenção estes dois testemunhos, o da Sónia e o da Eva, por virem de mulheres, porque os ouvi assim como quem se olha a um espelho, com as devidas distâncias. No entanto, foi fácil constatar que os homens passam por situações semelhantes, pois também são pais, maridos e filhos.
As realidades ali presenciadas não são intrínsecas aos médicos ou a outros profissionais da saúde e aos agentes de segurança mas algo transversal a várias profissões e sectores, certo?
A proposta utópica apresentada da separação entre as duas áreas, ou, em jeito de síntese, não levar o trabalho para casa nem a casa para o trabalho, é a meu ver muito difícil de concretizar porque a pessoa é um todo e o que acontece numa área acaba por influir, negativa ou positivamente, na outra. Isto sem falar em quem trabalha em casa, sistemática ou esporadicamente.
Um dos participantes no encontro dos médicos sugeriu uma alteração ao binómio para Família-Trabalho, ao invés de Trabalho-Família, para destacar uma área que a seu ver, e no meu, é mais importante valorizar. Contudo, nem todos somos iguais, pois há quem, com legitimidade, coloque o trabalho em primeiro lugar e a sua opção de vida seja por esse percurso.
O cardiologista Victor Machado Gil propôs-nos aquilo a se que decidiu para si próprio como resposta ao ansiado equilíbrio Trabalho-Família: criou o dia, ou a hora, ou o momento para o trabalho, para a família alargada, para os amigos, para a esposa, para os filhos e para o neto.
Parece-me bem, um minuto de cada vez…
23.04.2018

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