Coreias - Há notícias tão boas que parecem fake news


A notícia de que os líderes da Coreia do Sul e da Coreia do Norte anunciaram para até ao final deste ano a assinatura da “‘Declaração para a Paz, Prosperidade e Unificação da Península Coreana”, por meio da qual colocarão fim a um conflito de 65 anos, é de tal modo favorável, positiva, incrível, que até parece uma fake new. Parece informação inventada e difundida para beneficio de alguém, em prejuízo de outro alguém, ou até mesmo, de forma mais naïf, como um sonho tornado notícia. 

Felizmente, esta notícia não é fake e traz ao mundo das relações internacionais, institucionais e humanas, um fôlego novo. Quem nos dera recebermos notícias assim vindas de outros barris de pólvora bem mais acesos no mundo. 

A problemática das fake news foi recentemente objeto de análise num encontro em boa hora promovido pelo departamento de Comunicação do Patriarcado de Lisboa. 

“Perante a polémica, qual a resposta?” – Este foi, simultaneamente, o tema, o desafio e a proposta da jornada que decorreu em Carnaxide, a 28 de abril, iniciativa que contemplou um programa teórico-prático de informação, formação e debate, no qual participaram e para o qual contribuíram profissionais de comunicação de áreas muito diversificadas.

O ponto de partida da Jornada Diocesana foi, como não poderia deixar de ser, a mensagem do Papa Francisco para o 52.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que a Igreja este ano celebra a 13 maio. 

Na sua reflexão sobre a mensagem do Papa, intitulada «"A verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32). Fake news e jornalismo de paz», D. Nuno Brás, bispo auxiliar de Lisboa e membro da Secretaria para a Comunicação da Santa Sé, começou por destacar que o tema da verdade persiste em ser trazido à ordem do dia pelos diferentes Sumos Pontífices em várias mensagens para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, o que mostra bem a sua pertinência. 

Destacou também que a fake new e a mentira não estão relacionadas com as diferentes interpretações da realidade, essas ligadas à questão da subjetividade, mas com o problema, e o risco, de a mentira e a verdade serem tratadas em pé de igualdade. “Neste ambiente de pós-verdade, a verdade corre o risco de deixar de ser importante para a vida humana”, alertou.

Podemos talvez colocar a fake new lado a lado com o boato, a calúnia, entendidos como uma mentira, uma falácia bem montada, coesa, falsamente contextualizada, sussurrada ao ouvido ou divulgada aos quatro ventos. 

O Papa sublinha que a fake new apresenta características singulares reflexo do ambiente hodierno: “As fake news tornam-se frequentemente virais, ou seja, propagam-se com grande rapidez e de forma dificilmente controlável, não tanto pela lógica de partilha que carateriza os meios de comunicação social como sobretudo pelo fascínio que detêm sobre a avidez insaciável que facilmente se acende no ser humano”.

Na sua mensagem aos profissionais da comunicação e da informação, o Santo Padre Francisco deixa muito clara a diferença entre a notícia “boazinha” e a notícia verdadeira. 

“Por isso desejo convidar a que se promova um jornalismo de paz, sem entender, com esta expressão, um jornalismo bonzinho, que negue a existência de problemas graves e assuma tons melífluos. Pelo contrário, penso num jornalismo sem fingimentos, hostil às falsidades, a slogans sensacionais e a declarações bombásticas; um jornalismo feito por pessoas para as pessoas e considerado como serviço a todas as pessoas, especialmente àquelas – e no mundo, são a maioria – que não têm voz; um jornalismo que não se limite a queimar notícias, mas se comprometa na busca das causas reais dos conflitos, para favorecer a sua compreensão das raízes e a sua superação através do aviamento de processos virtuosos; um jornalismo empenhado a indicar soluções alternativas às escalation do clamor e da violência verbal”.

Por outro lado, Francisco reitera o apelo a uma educação para a verdade, e explica o método: “ensinar a discernir, a avaliar e ponderar os desejos e as inclinações que se movem dentro de nós, para não nos encontrarmos despojados do bem mordendo a isca em cada tentação”.

Na certeza de que, “a verdade não se alcança autenticamente quando é imposta como algo de extrínseco e impessoal”, para a discernir, continua o Papa, “é preciso examinar aquilo que favorece a comunhão e promove o bem e aquilo que, ao invés, tende a isolar, dividir e contrapor”.

Um problema persiste e desafia-nos a todos; é por demais notório que os efeitos tantas vezes nefastos, diretos e colaterais, de uma fake new, de um boato ou calúnia, são difíceis de combater e de ultrapassar. Uma vez atirada a pedra…

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